Exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal são os três sintomas característicos da doença psíquica.

Exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal: são esses os três sintomas característicos da Síndrome de Burnout. A doença psíquica vem sendo discutida nos últimos anos e pode surgir em ambientes ruins e de sobrecarga. Para falar sobre o assunto, o g1 conversou com uma psicóloga e com uma jovem que passa pela situação em Juiz de Fora. Veja abaixo.

 

‘Não conseguia passar perto do meu trabalho’

 

Natalia de Almeida Alves, de 28 anos, é publicitária e foi diagnosticada com burnout em 2018.

Em entrevista à reportagem, ela contou que procurou ajuda após sentir irritabilidade, tristeza e desmotivação. “Eu não conseguia passar perto do meu trabalho. Me dava aversão”, explicou.

Anteriormente, Natalia fazia acompanhamento com psicólogo e foi isso que a ajudou a pensar no diagnóstico.

Após não conseguir cumprir demandas, ter alterações de humor relacionadas ao trabalho e apresentar crises de ansiedade, ela buscou um psiquiatra. O profissional confirmou a doença.

 

“O que mais me marcou foi um episódio específico, em que eu estava atravessando a Avenida Itamar Franco, olhei para o lado e comecei a enxergar tudo ‘cinza'”, contou a publicitária. “Eu achava que era uma metáfora, mas realmente a vida perde a cor e ali eu já estava com sintomas depressivos. Com esses sintomas vem a desesperança, o vazio e a falta de sentido”, explicou.

Síndrome de Burnout

Com casos relatados desde a década de 1970, a Síndrome de Burnout se tornou mais evidente no último século por conta da confirmação da mesma como uma doença de trabalho.

A psicóloga e consultora de Recursos Humanos em Juiz de Fora, Aretha Martins, conversou com o g1 e esclareceu que a pandemia também serviu para iluminar os casos de burnout, já que “a situação tornou evidente a fragilidade da condição psíquica do trabalhadores”.

Ainda segundo a especialista, profissões que lidam diretamente com outras pessoas são, de acordo com a literatura, as mais acometidas pelo burnout. Destacam-se os trabalhadores da saúde e da educação, além de policiais e bancários, entre outras.

 

Sintomas da síndrome

 

Aretha contou que o diagnóstico de Síndrome de Burnout é difícil de ser atingido. Isso porque é necessário que o paciente apresente os três sintomas, não somente um ou dois relacionados, além de um nexo causal que tenha uma relação com o emprego.

Os sintomas psicossomáticos, como dores de cabeça, desmaios e gastrite, não são o suficiente para o diagnóstico.

Entenda os sintomas

 

  • Exaustão emocional

 

“É um esgotamento que vai para além do cansaço físico, da fatiga, da exaustão física”, explicou Aretha. Segundo ela, é uma sensação de cansaço interminável.

  • Despersonalização

 

“É um sintoma comportamental e se caracteriza pela mudança da reação desse paciente em relação as pessoas envolvidas no seu trabalho, como clientes, colegas de equipe e fornecedores”, disse a psicóloga. “O trabalhador tem uma postura mais agressiva, de mais impaciência, de impessoalidade de intolerância”.

 

  • Baixa realização pessoal

 

“Quando o sujeito fica desmotivado, insatisfeito com as atividades que está realizando, e começa a apresentar queda no desempenho”, finalizou.

 

Tratamento

 

Após o diagnóstico da Síndrome de Burnout, o que deve ser feito em seguida é o afastamento do trabalho e o acompanhamento psicológico e psiquiátrico do paciente. Dependendo do grau do adoecimento, o uso de medicação pode ser ou não necessário.

No caso de Natalia, foi possível recorrer a outras alternativas: “precisei focar muito em atividade física, boa alimentação, fiz coisas prazerosas, terapia e o principal foi o afastamento do trabalho por um período de 15 dias”, contou.

“Depois eu pedi demissão. Acho que se eu tivesse voltado para o lugar [em que eu trabalhava antes], eu teria continuado mal”, complementou a jovem.

Aretha Martins também cita a mudança de emprego como o processo final do tratamento da burnout, já que o trabalho é a causa inicial do desenvolvimento da doença.

 

“É possível que, quando o sujeito retorne ao trabalho, os sintomas voltam a se manifestar. Então, para efetivar completamente a cura, a recomendação é que de fato ele troque de trabalho”, afirmou a profissional.

 

Natalia ainda contou que a mudança de emprego foi fundamental para identificar o motivo do adoecimento dela e o que ela poderia fazer para mudar aquele quadro.

“A gente não precisa estar em um lugar que nos adoece. Um bem que a gente pode fazer por nós é ter autonomia para escolher estar em lugares saudáveis e nos proporcionar bem estar através de comportamentos saudáveis”, finalizou Natalia.

Tem como evitar?

 

Segundo Aretha, não há uma forma de evitar completamente que a Síndrome de Burnout se desenvolva, já que é algo que foge do controle do indivíduo.

No entanto, é recomendado que se faça um acompanhamento terapêutico preventivo e que sempre seja buscada uma relação harmoniosa com o trabalho.

Em relação ao papel das empresas nesse processo, a consultora de RH lista uma série de ações que podem ser tomadas:

 

“[Promover] programas de gestão de qualidade de vida, estar atento a saúde psíquica do trabalhador, adequar as condições de trabalho, respeitar as determinações legais e cuidar pra que o ambiente de trabalho seja harmonioso, que não aconteça situações de assédio moral ou sobrecarga”, afirmou Aretha.

 

Natalia de Almeida trocou de trabalho e, atualmente, promove mentorias e cursos sobre marketing para psicólogas.

Sendo a própria chefe, a relação com o trabalho é melhor, mas ainda oferece desafios: “o fato de ser em casa e sozinha já é complicado. Então, faço questão de me arrumar todos os dias, separar o ambiente de trabalho de descanso e colocar limites”.

Com tempo de descanso e com um olhar de carinho para a saúde mental, Natalia continua na terapia e aborda as questões do trabalho nas sessões. “A experiência me fez ver que a gente precisa ter uma relação boa com o trabalho e que nós somos mais do que a nossa atividade”, finalizou.

 

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